
O Véu Entre o Teu Silêncio e Minha Voz
Um véu de névoa paira entre nós:
teu silêncio é um rio sem margens,
minha voz, uma semente a flutuar
sobre águas que não sabem de reflexos.
Falo em línguas de vento —
são sílabas que se enrolam nas tuas costas,
tentando desatar os nós do tempo
onde teus segredos dormem em dobras.
Tu calas como quem esculpe sombras:
cada ausência, um vértice de luz negada,
cada pausa, um abismo que se alonga
no mapa do que nunca se nomeia.
Mas escuta:
atrás do teu muro de ar,
minhas palavras são raízes cegas,
cavalgando a terra fria do não-dito,
buscando o sopro que te habita.
Talvez o véu não seja fronteira,
mas pele —
frágil membrana onde o eco se faz ponte.
De um lado, o que não ousas confessar;
do outro, o que minha voz desfia
em fios de ausência e espera.
E assim dançamos,
tu e eu,
na corda bamba deste tecido ténue:
enquanto teu silêncio me devora,
minha voz te veste de aurora.
abril 2025
© Julio Miranda

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