Véu de Perguntas sem Respostas

Não é seda, nem renda fina,
É um véu tecido de porquê.
Perguntas que a alma imagina,
E que ninguém responde, ah… ninguém!

É leve, feito névoa ao vento,
Mas pesa mais que chumbo fundo.
Cobre o olhar do pensamento,
Num silêncio vasto e profundo.

Por que a semente sabe o rumo
Do sol que busca no chão?
Por que o adeus tem tanto sumo
No cálice vazio da mão?

Onde foi a infância, tão nítida,
Que se esvaiu feito anel de fumaça?
Por que a saudade, infinita,
Na lembrança que nunca se despedaça?

Quem move as sombras na parede,
Quando a luz já se recolheu?
Por que o amor, quando se perde,
Deixa um eco que nunca morreu?

O véu não rasga, não se desata,
Flutua no ar, eterno, sem dono.
São fios de angústia, linha prata,
No tear do mistério, contínuo e tristonho.

Mas há beleza nesse pano,
Nessa névoa que não se dissipa.
É no não-saber, no ar humano,
Que a alma inquieta se justifica.

Então deixo o véu pairar,
Sem buscar tesoura ou facão.
Deixo as perguntas sem cessar
Tecerem sua própria canção.

Pois quem desvenda todo o enigma,
Perde o sabor do voo, da queda…
Melhor a nuvem, a dúvida amiga,
Que a certeza fria, pesada e quedada.

Que o véu flutue, leve e obscuro,
Vestindo o mundo de talvez.
Será mistério? Será futuro?
São perguntas… sem respostas outra vez.

junho 2025
© Julio Miranda

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