
Vertigem de Luz
Não foi clarão súbito,
Foi um despertar de fósforos
Dentro das veias.
Alegria assim:
Minúscula, persistente,
Como pirilampos tecendo
Um caminho no escuro
Antes que o cérebro nomeie
Felicidade.
Um formigueiro de estrelas
Subindo pela espinha.
Vertigem de luz
Antes mesmo
De saber que eras sol.
Depois veio o Amor,
Não como abrigo,
Mas como expansão do corpo.
Dois campos magnéticos
Dissolvendo suas bordas,
Gerando auroras
Onde pele e espaço
Se confundem.
Tocaste-me —
E foi um relâmpago lento,
Raiz de prata plantada
No centro do peito.
Vertigem de luz
Quando os olhos fechados
Veem mais que o mundo:
Veem o arco-íris interno
Que nasce do choque
Das nossas atmosferas.
Paixão?
Foi quando essa luz
Virou chama sem lenha,
Combustão espontânea
Do instante.
Não fogo que devora,
Mas incandescência
Que transpõe matéria:
Os ossos, leves;
O sangue, plasma solar;
O gemido, espectro
De uma cor nunca vista.
E o abraço —
Ah, o abraço! —
Física quântica aplicada:
Dois corpos ocupando
O mesmo lugar no espaço,
O mesmo tremor no tempo.
Vertigem de luz
No precipício do gozo,
Onde cair é elevar-se
Em partículas de êxtase.
E depois do ápice?
A luz não se apaga.
Condensa-se.
Vira pó de diamante
Nas pestanas,
Fio de néctar
Entre os lábios,
Rasto de fogo-fátuo
Na alma.
Porque esta vertigem
Não é sintoma:
É linguagem primordial.
A que o corpo fala
Quando a mente cala.
É o aviso do céu:
“Cuidado, humano —
Já não és só carne.
Tens luz demais
Para caber em um só nome.”
Vertigem de luz
É o estado natural
De quem ousa fundir
Alegria, Amor e Paixão
Numa única ignição sagrada.
E descobre, rindo,
Que o abismo
Era apenas o reflexo
Da tua própria
Luminosidade sem fundo.
junho 2025
© Julio Miranda

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