
VELHO MARINHEIRO (Sorrento, Último Verão)
Não sou Caruso, nem tenho a sua voz de ouro,
sou apenas um velho marinheiro, com o sal nas veias,
e uma guitarra desafinada para desafiar a dor.
Mas depois vieste tu – como a primavera no coração do inverno.
Olhos de esmeralda (assim te chamo em sonho),
mais verdes que o Mare Nostrum depois da tempestade.
Olhas para mim, e dentro deste casco que treme,
renasce um fogo antigo, uma chama sem idade.
As minhas mãos, marcadas por nós e pelo tempo,
tocam cordas rugosas, buscam um acorde perdido.
Tu ris – e é um som mais doce que qualquer canto,
enquanto o crepúsculo pinta de âmbar o nosso minuto.
Dizem: “Está louco, aquele velho! O que lhe pode dar?”
Mas não sabem que a alma não tem rugas nem calendário.
O teu olhar aquece-me mais que o sol de julho,
neste quarto onde o destino nos pregou.
Canto desafinado, voz quebrada pelo vento,
mas as palavras que murmuro são só para ti:
“Te voglio bene, assai… mais que a própria vida,
mais que o sopro do mar, mais que este meu soluçar.”
Não tenho palcos, nem flores a meus pés,
só esta onda infinita a bater contra o rochedo.
Mas quando os teus olhos verdes nos meus se perdem,
sou jovem outra vez… neste último sonho.
Amanhã? Talvez o vento leve esta voz embora.
Mas esta noite, amor meu, enquanto a vela se apaga,
sinto o teu hálito no pescoço, uma carícia leve…
O amor é eterno – mesmo nesta última prece.
junho 2025
© Julio Miranda

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