
Teu Nome, Meu Cativeiro de Papel
Escrevo-te nas sombras,
letra a letra, em tinta de crepúsculo:
cada sílaba tua é uma grade
que desenho com fogo frio
sobre o pergaminho do meu silêncio.
Teu nome —
labirinto de dobras secretas,
origami de ausências,
dobradura que sangra
quando desfaço o verso
e descubro:
o verso era a cela.
Na gaveta das madrugadas,
guardo cartas que nunca incendiei.
Elas fumegam em alfabetos roubados,
enquanto teço, com fios de lua,
o manto que esconde
o tremor das nossas sílabas
sob a língua do vento.
(Às vezes,
o jardim da meia-noite abre-se
em pétalas de caligrafia:
teu “R” é um rio sem margens,
o “M” um arco de tempestade
e o “A” — ah, o “A” —
uma janela entreaberta
onde me inclino para cair.)
Mas o que é proibido
não se declama,
engasga-se.
Aqui, até o eco
aprende a mentir:
escondo-te em anagramas,
em palíndromos do meu pulso,
enquanto o corpo, página em branco,
se dobra ao peso
da assinatura que não ouso carimbar.
Teu nome, amor,
é o cárcere que construo
toda vez que respiro:
uma cela de papel de arroz,
tão frágil que me engasgo
com a doçura do seu desmoronar.
E assim, entre rasuras e auroras,
permanecemos:
eu, o escriba do impossível,
tu, a letra que se nega a ser lida —
dois fantasmas dançando
sobre a ponta de uma agulha,
enquanto o papel, sorrateiro,
sussurra nosso epitáfio
em vinco de esquina.
(P.S.: Todo amor secreto
é um livro censurado
que arde por dentro —
e nós, ah, nós
somos as cinzas que insistem
em dançar.)
© maio 2025
Júlio Miranda

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