Tempo e Memória

Entre a névoa do tempo, a memória tece fios,
Lembranças que dormem, mas não são esquecidas:
São ventos que dobram os galhos do presente,
Sementes de ontem em flores desabridas.

O passado é um espelho partido em mil cacos—
Cada fragmento, um mapa de escolhas gravadas.
Na areia movediça do agora, pisamos cautelosos,
Rastros de sombras que a maré já lavou, mas não apaga.

O futuro, frágil pássaro, aguarda nos ramos,
Enquanto o hoje, ferreiro, forja suas asas.
Na bigorna do tempo, o martelo da história
Desenha amanhãs na chama que se espalha.

Somos rios que correm por leitos antigos,
Águas turvas de invernos, claras de verões.
Cada decisão, onda que quebra na praia,
Leva consigo conchas de milhares de mãos.

Memória é bússola, tempo é travessia:
Na dança entre o que foi e o que ainda virá,
Cada passo, um eco de vozes entranhadas,
Cada escolha, um verso do poema a se escrever.

abril 2025
© Julio Miranda

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