
Sonata para uma Janela Fechada
A janela não se abre mais —
o luar, em fios de prata,
tece um cravo na parede,
mas a luz é música surda.
O vento, como um dedo inquieto,
espreita as frestas do tempo:
traz acordes de um outono
que a madeira guarda em segredo.
O vidro, pauta congelada,
reflete um compasso antigo:
são silêncios de domingo,
notas presas na vidraça.
Quem dirá que o fechamento
é também um prelúdio?
Na moldura, há um suspiro
que o horizonte não escuta.
Amanhã, talvez, a chuva
desate a canção nascente —
e a janela, deslizando,
vire um verso no ar quente.
maio 2025
© Julio Miranda

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