
Sodade Azul – Tejo Sem Regresso
Na margem sul do rio que não canta,
o teu nome é silêncio entre pontes e luares.
As marés trazem ecos de vozes quebrantadas,
— mensagens azuis (já lidas, nunca apagadas) —
vestígios de um amor que o vento leva em nuvens.
Do outro lado do espelho, os dedos escreviam
mapas de ausência em linhas instantâneas:
“Amanhã talvez chova“, “Vejo a tua janela na aurora“.
Mas o Wi-Fi não carrega almas, amor —
só pixéis de sorrisos, notas de voz sem corpo,
enquanto o relógio mastiga segundos
e o coração, traidor das geografias,
aprende a bater em outro alfabeto.
Agora, na margem onde o Tejo desenha
sua curva de exílio, guardo o eco
de um “bom dia” que já não me pertence.
“Sodade” é isto: uma ilha sem porto,
um chat aberto na madrugada,
à espera de um coração que navegou
para águas mais quentes, mais próximas,
enquanto eu conto as ondas
que separam saudade de esquecimento.
(É assim que se morre de rio:
com a correnteza fria dos vistos por último
e o sal das lágrimas que o mar não reconhece.)
Março 2025
© Julio Miranda

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