
Rosto de Areia
No horizonte do tempo, esculpido sem pressa,
Um rosto de areia contempla o infinito.
Suas linhas, outrora firmes, hoje são promessa
De mutação constante, um eterno conflito.
Olhos que já foram lagos, agora são vales,
Sulcados por ventos que não pedem licença.
Lábios que contaram histórias aos mortais
Desfazem-se em grãos de silenciosa presença.
O vento do norte beija-lhe a face com fervor,
Redesenhando traços que julgávamos eternos.
Hoje sorriso suave, amanhã expressão de dor,
Metamorfose contínua entre verões e invernos.
Quem és tu, rosto de areia, que ao tempo te entregas?
Que aceitas ser outro a cada sopro do destino?
Que na entrega encontras força e não te negas
A mudar, renascer, seguir novo caminho?
Somos todos areia na palma do tempo,
Esculpidos por dias, moldados por anos.
Cada marca um segredo, cada ruga um momento,
Cada transformação, cura para os enganos.
E quando o último grão da ampulheta cair,
Quando o último vento moldar nossa face,
Seremos apenas memória a persistir,
Como o rosto de areia que no horizonte jaz.
Mas não temas o vento que te transforma,
Pois na mudança reside a verdadeira essência.
A beleza não está na permanência da forma,
Mas nos mil rostos que compõem tua existência.
abril 2025
© Julio Miranda

Deixe um comentário