
Rios Não Ditos
A vida escorre entre os dedos
como areia que não molhamos —
há flores que secam na semente
antes mesmo de nomearmos o jardim.
Amor é verbo que se cala
nos lábios que temem a geada:
um abraço não dado é pássaro engaiolado,
asas batendo em segredo contra o peito.
Mas há um rio subterrâneo
que corre nas veias do mundo.
Quem ousa desatar as mãos
descobre que a sede era só medo
de transbordar.
Talvez a morte não seja o fim,
mas o silêncio daquilo que não dissemos
com os olhos, as mãos, o pão repartido.
Viver, afinal, é deixar-se em brechas:
rachar o invólucro do possível
e sangrar luz.
abril 2025
©Júlio Miranda

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