
Amar
Amar é um fogo que não pede lenha,
Incendiar-se no vento, em pleno voo —
Dois corpos que se esquecem de ser terra,
Desatino de astros em redemoinho.
É desfolhar a própria pele, oferta
Que se dissolve em sal e em imensidão.
Beijar o invisível, rasgar a porta
Do tempo, onde respira a solidão.
Não há nome, nem rosto: apenas chama
Que dança em círculos de fogo e sombra.
Amar é ser rio sem leito, chama
Que o mar engole e, ainda assim, assombra.
Teu nome é labirinto onde me perco,
Fogo secreto num altar de espuma.
Sílabas que desenham novo universo,
Onde cada gesto é oração e lume.
Amar é ser mapa de um corpo ausente,
Rasto de luz onde a noite se espelha.
Eco de um grito que, em segredo, inventa
Asas onde a lei ergueu sua muralha.
abril 2025
©Júlio Miranda

Deixe um comentário