Rios de Ti

Todos os rios do mundo são veias do meu verso,
correm para o oceano que habita teu peito.
Nas suas águas, carrego o sal das horas dispersas,
e a maré dos meus dias só sabe teu desejo.

A Lua desenha mapas na pele da correnteza,
e as estrelas, náufragas, brilham no teu nome.
Sou barco sem remos, à deriva na certeza
de que o teu coração é o porto que me consome.

Até o horizonte é um fio que nos cose,
costura o céu à terra, a sede ao respiro.
A saudade é um cais onde o tempo deposita
as cartas que escrevi com tinta de suspiro.

Amor, desagua em mim como chuva nas folhas,
inunda cada raiz, cada sombra calada.
Que o mundo seja um rio onde nossas vozes se colham,
e a eternidade, um leito de areia molhada.


(Dois rios, uma foz:
no corpo da noite,
somos a nascente
que o mar não conduz.)

abril 2025
© Julio Miranda

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