Rio dos Teus Olhos, Mar dos Meus Segredos

No cristalino curso dos teus olhos
Procuro-me, viajante sem destino,
Enquanto as águas correm, transparentes,
Revelando o leito de desejos antigos.

São verdes como o Douro em primavera,
Ou azuis como o Tejo ao entardecer?
Não sei dizer — só sei que me perco neles
Como quem se entrega à corrente sem temer.

As margens dos teus cílios guardam sombras
Onde escondo os suspiros que não digo,
E na curva suave das tuas pálpebras
Encontro o horizonte que persigo.

Enquanto isso, em mim, um mar se agita,
Ondas de segredos batem no peito,
Maré alta de amor nunca confesso,
No abismo do que sinto e não aceito.

Quantas tempestades guardei em silêncio?
Quantos naufrágios sofri sem te contar?
Há todo um oceano dentro de mim
Que só os teus olhos conseguem acalmar.

Se o teu olhar é rio que serpenteia
Entre vales de dúvidas e certezas,
O meu coração é mar que se entrega
Ao sabor das tuas naturais surpresas.

Por isso deixo que o rio dos teus olhos
Desague no mar dos meus segredos fundos,
Para que nas águas misturadas, enfim,
Possamos descobrir novos mundos.

E quando a noite cair sobre as águas,
E o luar banhar nossa entrega muda,
Seremos apenas natureza pura —
Rio e mar que o amor, eterno, ajuda.

maio 2025
© Julio Miranda

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