Quimera de um Beijo sem Geografia

Entre mapas que não se desdobram,
o teu nome é um rio que corre
no verso invisível da distância.
Meus dedos traçam a cartografia da ausência:
fronteiras de papel, latitudes de talvez.

Sob a pele do horizonte,
teu sopro é um fantasma de jasmim,
uma sombra que dança
na sala vazia do meu peito.
Beijo sem rosto, sem tempo,
arquitetado em sílabas de silêncio—
puro véu que o vento desfia.

Sonho-te em todas as línguas do fogo,
mas a chama é uma metáfora quebrada:
ardemos em alfabetos distintos,
traduzindo cinzas.

Teu lábio é um país
que meu compasso não alcança—
geometria de um quase,
naufrágio de coordenadas.

E assim seguimos:
eu, navegando em atlas de névoa;
tu, ilha que o meu barco não fundeia.
O beijo? Ficção de um desejo
que habita
onde o mundo não tem nome.

maio 2025
© Julio Miranda

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