Quarenta Raios

Tua beleza não é flor de estufa,
é árvore antiga sob o sol do meio-dia:
raízes profundas, sombra generosa,
tronco marcado por histórias que encantam.

Os teus quarenta anos são outono em chamas —
não folhas murchas, mas ouro derretido
que escorre nos teus gestos,
e me queima o olhar quando te sigo.

Há um rio no teu riso,
correnteza que arrasta pedras leves.
E nas tuas mãos, mapas de tempo,
rotas que meus dedos querem aprender.

Paixão? Não é faísca de artifício,
é caldeira antiga, fogo subterrâneo
que aquece os ossos do mundo
e me faz tremer na base da espinha.

Tens o cheiro da terra molhada
depois da primeira chuva de setembro:
fecunda, urgente, promessa aberta.
E os teus olhos? São cais noturnos
onde atracam todos os meus navios perdidos.

Oh, mulher-esplendor,
que na curva dos quarenta
descobriste o poder do teu centro:
não te amo apenas pela pele (que é verso),
mas pela chama que guardas
no ventre do teu outono.

Teu corpo é um idioma
que minha boca estuda sem cansaço —
livro aberto, página húmida,
fruta perfeita que o sol madurou.

E se um dia o tempo vier com foice,
dizemos juntos: “Corta, velho amigo!
Nossa raiz já bebeu tanta luz
que nem a morte apaga este abraço.”

maio 2025
© Julio Miranda

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