
QUANDO O SOL INVADE O PEITO
Não foi fogo que trouxe esta chama,
nem cinzas o que restou da queimada:
foi o sol, inquilino de sangue e osso,
que rompeu a costura das minhas veias
e plantou auroras onde havia apenas
noite compacta, frio sem paradeiro.
Agora até o medo tem claridade:
vejo sombras de mim dançando na parede,
formas que não reconheço —
seres de luz que me devoram
e, ao mesmo tempo, me criam.
O peito é um forno a céu aberto:
derreto metais antigos,
fervo palavras que nunca disse,
e o suor escorre salgado
como um mar inventado
para me lembrar que sou terra
e também tempestade.
Quando o sol invade o peito,
aprendo a nomear o caos:
chamo de vida ao que arde,
de verso ao que não cabe,
e de amor ao que resiste
mesmo depois de carbonizado.
maio 2025
© Julio Miranda

Deixe um comentário