
PINTANDO O MUNDO COM TUA PAIXÃO
Não são tintas, nem pincéis.
É teu riso que escorre
pelas ruas cinzentas,
convertendo o asfalto
em rio de lantejoulas.
Primeiro, o amarelo:
Não o do sol, mas o que nasce
quando teus dedos
desenham círculos lentos
na base do meu pescoço –
ouro líquido
a inundar os meus ossos.
Depois, o vermelho:
Não o da rosa, mas o que arde
no rastro da tua boca
descendo meu ventre
como um carvão aceso –
incêndio de morango
nos campos do meu corpo.
O azul?
É o teu suspiro dentro do meu ouvido
enquanto a noite cai –
oceano vertical
onde nado sem medo de profundezas.
O verde?
São as palavras que plantas
no silêncio da madrugada –
ervas dançantes
brotando das frestas
do meu coração rachado.
Ah, e a púrpura!
Essa só existe
quando teus olhos fechados
e meus lábios abertos
criam um novo crepúsculo
sobre lençóis desfeitos –
aurora boreal
num quarto de subúrbio.
O mundo era um rascunho a lápis
até que tuas mãos
começaram a desarrumar-me as cores.
Agora até a chuva
cai em arco-íris,
as nuvens são algodão-doce,
e o vento
— antigo ladrão de folhas secas —
agora espalha pétalas de luz.
Pintas o mundo com tua paixão?
Engano.
É o mundo que se dissolve
e nos sobra apenas
este caleidoscópio de pele
onde tu misturas
sangue, suor e astros
até criares
a cor que falta no universo:
o nome do nosso amor.
junho 2025
© Julio Miranda

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