
PALÍNDROMO CÓSMICO (VERSO REVERSO)
“A poesia é um palíndromo cósmico”
(virando as penas de luz)
“Omis moc ordnilap mu é aisop a”
Eis que caem dos bolsos do avesso:
três moedas de sombra com inscrições de luz —
Primeira face:
O Universo lê-se de trás para frente
nas asas da andorinha que desfaz seu voo.
Até o Big Bang tinha um irmão gémeo
sussurrando Adão ao contrário no vácuo sonoro.
Segunda face:
O amor é simétrico: cada sim guarda um não
enrolado como fita de Moebius no peito.
Agarramos sílabas no rio de Heráclito
e elas, ainda quentes, já secam na outra margem do tempo.
Terceira face:
No centro do espelho, onde o eco se desdobra em dobras,
encontrei minha voz antes de nascer, antes de ser:
um poema de fósforo escrito na caverna cósmica
que arde igual nos olhos do futuro e do réu do passado.
EPÍLOGO EM QUANTUM
(Ao recolher as moedas, percebo:
as datas cunhadas são todas 31 de fevereiro
e o metal é feito de perguntas não-ditas, não-ouvidas.
Guardo-as no bolso que não existe, mas insiste.)
(P.S.: O verdadeiro palíndromo cósmico
não está no verso, mas no silêncio entre estrelas
onde o “ama” de um pulsar distante
ecoará, daqui a eons, como “ama” outra vez,
e as penas do tempo continuarão a escrever-se ao contrário.
março 2025
©Júlio Miranda

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