
Onde os Sentidos se Perdem
Há poemas que não se escrevem,
respiram-se.
São o aroma que escapa
das pétalas ao amanhecer,
quando o orvalho ainda é um segredo
que a luz desvenda suavemente.
Há versos que não se declamam,
sentem-se.
São o tremor das cascatas,
o eco que se perde na garganta da montanha,
o silêncio que habita, como uma prece,
entre uma onda e outra,
quando o mar suspira.
Há rimas que não se ouvem,
contemplam-se.
São as nuvens que desenham
histórias efémeras no céu,
a areia que guarda, com ternura,
as pegadas do vento,
o sol que se derrama no horizonte,
como um verso final
que nunca acaba.
Há estrofes que não se leem,
abraçam-se.
São os rostos amigos
que carregam mapas de memórias,
os sorrisos que iluminam
os cantos mais escuros da alma,
os abraços que sussurram:
“estás seguro.”
Há poemas que não se encontram,
sonham-se.
São as estrelas que tecem
constelações na escuridão,
os recantos da imaginação
onde o tempo se dobra
e o impossível se torna real.
E há, ainda, aqueles versos
que não se explicam,
simplesmente são.
Brota um poema em cada canto,
quando os olhos se permitem ver
e o coração se deixa agarrar
pelo inesperado.
fevereiro 2025
©Júlio Miranda

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