
O Silêncio Entre as Palavras
Entre as sílabas, um vácuo respira,
Vasto como a noite entre estrelas desatadas.
Não é o som, mas o eco que se estira
Nas entranhas do que cala, desveladas.
Um olhar que atravessa a frase pronta,
O gesto que se perde no intervalo.
Há mundos no recuo de uma ponta
Que sangra tinta em versos de segredo.
Entre o “sim” e o “não”, um abismo dança,
Feito raiz que rompe o asfalto liso.
O não dito se expande, ganha substância,
Ecos de um rio subterrâneo, impreciso.
Nas cartas não enviadas, nas pausas frias,
Moram os deuses do que a voz não nomeia:
Silêncio — alfabeto das melancolias,
Língua que o tempo não doma nem semeia.
Escuta: entre o ruído e a eternidade,
O vazio tece sua própria história.
É no intervalo, na quietude ardente,
Que nasce a luz mais fiel à nossa sombra.
abril 2025
© Julio Miranda

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