
O Sabor do Fogo
Não é chama que consome,
não é cinza que descansa.
É um gosto
que trespassa
a pele fria da alma.
Sabor do Fogo
na boca do vento,
na curva do desejo,
no instante lento
que precede o beijo.
É doce brasa
na ponta da língua,
um mel de âmbar
que a garganta apunhala.
Açúcar que queima,
vinho que espuma
e deixa na taça
a marca de uma
incandescência muda.
Sinto-o correr
veias abaixo,
um rio de carvão
sob pele que arde.
Toca-me o osso,
esse sabor profundo,
faz-me tremer
o alicerce do mundo.
É dor que deleita,
ferida que floresce,
cicatriz viva
onde o teu nome cresce.
Queimadura terna
no centro do peito,
fitofágico enigma
— perfeito, imperfeito.
Não busco água
para este ardor,
nem sombra fresca
para o meu suor.
Deixa-me provar
até o fundo
esse licor de sol,
esse abismo fecundo.
Sou forja
onde te refinas,
metal bruto
nas tuas mãos divinas.
Sou lenha
no teu incêndio lento,
sou cinza
do teu sopro atento.
O Sabor do Fogo:
não se extingue, transforma.
Deixa na boca
o eco de uma forma
nova de ser,
nova de amar,
nova de arder
sem se consumir.
É o gosto eterno
de ressuscitar.
junho 2025
© Julio Miranda

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