
O Peso do Não Dito
O silêncio é um guardião de segredos frios,
véu que envolve o vão, frágil como porcelana.
Enquanto palavras, flechas de fogo sombrio,
riscam o céu e incendeiam a manhã.
Há mundos tecidos em fios de cristal,
onde um sopro basta para desmoronar.
Uma palavra cortante, navalha ancestral,
pode apagar séculos de amor ao passar.
Por isso calo as tempestades na garganta,
deixo o vendaval adormecer no osso.
Melhor um abismo mudo, quieto na garganta,
que ver um castelo de vidro em retrocesso.
O não dito é templo que o tempo sustenta,
mas a língua, faca, abre brechas nas paredes.
Entre o falar e o calar, a vida se sustenta
no fio que separa ruínas de redenções.
Escolho, às vezes, a quietude do lago,
onde o amor, intacto, reflete seu fulgor.
Pois um só verbo, incauto e amargo,
pode silenciar para sempre a flor.
abril 2025
© Julio Miranda

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