
O Mar que Habita os Teus Olhos
Nos teus olhos mora um mar sem fim,
Ondas de segredo em tom de anil,
Onde me perco, sem querer partir,
Navegante à deriva do teu perfil.
São as marés que ditam o teu sorriso:
Às vezes calmarias de um porto antigo,
Outras, vagas que rasgam o paraíso —
Sal e espuma no rosto do perigo.
Na aurora, trazes conchas de poesia,
Na pupila, o reflexo de um cardume;
Mas ao crepúsculo, a sereia fugia,
Deixando o canto preso neste lume.
Há abismos no azul que me convidam:
Desço, sem fôlego, em direção ao centro,
Onde os naufrágios do teu amor residem —
E acham-se pérolas no meu desventuro.
Não tecem mapas para este oceano,
Nem bússola aponta o teu caminho:
Sou um barco feito de verso humano,
Afundando-me em teu olhar tranquilo.
E se um dia secarem rios e fontes,
Restará este mar que em ti persisto:
Dois cais fundidos em águas conjuntas —
Teu olhar, meu corpo: o mesmo abismo.
© maio 2025
Julio Miranda

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