
O Fulgor dos Dias Intensos
Entre as costelas do tempo,
cada dia se abre como uma fruta violácea,
sangrando horas em néctar e espinho.
O sol, artesão de cicatrizes douradas,
incendia as paredes do mundo
enquanto as sombras se enrodilham
em fios de perguntas sem resposta.
São tardes que mordem os lábios do horizonte,
desfiando segredos em línguas de vento:
o relógio é um pássaro ferido
que cai e renasce no mesmo voo.
Nas ruas, a vida escorre em cores líquidas —
vermelho de buzina, azul de saudade,
verdes que sussurram nomes esquecidos.
À noite, o céu se faz mapa de ciclones:
rastros de luz, asterismos fugidios,
e nós, navegantes de peles rachadas,
bebemos o caos como quem colhe estrelas
para plantar jardins no deserto do peito.
Até que a madrugada, cirurgiã silenciosa,
costure nossos sonhos com fios de alvorada.
E assim se tece o fulgor:
um bordado de instantes que ardem
e, ao queimar, deixam na carne
o cheiro do eterno.
maio 2025
© Julio Miranda

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