
O Espelho Interior
Procuro-me no reflexo que não mente,
No vidro frio onde a alma se desnuda,
Onde o olhar encontra, finalmente,
A verdade que em silêncio nos saúda.
Camadas de máscaras desfeitas,
Revelam cicatrizes e conquistas,
Histórias que guardamos, imperfeitas,
Em segredos que fogem das vistas.
Quem sou eu quando ninguém observa?
Que voz me habita quando há só silêncio?
Que medos a coragem ainda preserva?
Que sonhos no horizonte ainda presencio?
O espelho não julga nem condena,
Apenas mostra o que tentamos esconder,
A verdade que liberta ou que algema,
Nas profundezas do nosso próprio ser.
Mergulho nos abismos que me habitam,
Onde luz e sombra dançam sem cessar,
Onde memórias e desejos se agitam,
No palco interno que recusa sossegar.
Conhecer-se é viagem sem destino,
É encontrar perguntas, não respostas,
É aceitar o incerto e o genuíno,
Das verdades que em nós estão dispostas.
No espelho vejo o que sou e o que fui,
O que temo e o que ainda aspiro,
A pessoa que aos poucos construí,
No labirinto íntimo em que respiro.
O reflexo revela, sem piedade,
O ser humano em toda a sua essência,
A beleza crua da vulnerabilidade,
A força oculta da resiliente presença.
Olhar para dentro é a mais corajosa arte,
Confrontar verdades que tentamos evitar,
Reunir cada fragmento, cada parte,
E no autoconhecimento, renascer, despertar.
abril 2025
© Julio Miranda

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