Quadro surrealista com nuvens de várias cores para ilustrar o tema do poema "No Entre", que retrata os 5 sentidos do siêncio...

No Entre

Há um lugar onde as cores não se agitam, 
onde o azul não é mar, nem céu, nem fuga. 
É apenas uma pausa, um respirar fundo, 
um véu que cai sobre o mundo. 

O odor não é flor, nem terra molhada, 
mas o espaço entre o cheiro e a memória. 
É o que fica quando o vento se cala, 
quando o tempo se esquece de si mesmo. 

A melodia não tem notas, nem compasso, 
é o intervalo entre dois sons, 
o que escutas quando a música se despede 
e o eco se dissolve no ar. 

A textura não é lisa, nem áspera, 
é o vão que habita entre os dedos, 
o que sentes quando a mão se abre 
e nada toca, mas tudo se preenche. 

O sabor não é doce, nem amargo, 
é o que resta quando a língua se aquieta, 
quando o gosto se despe de si 
e se funde no invisível. 

É a força que não se vê, 
mas que sustenta o peso das estrelas. 
É o que não se diz, 
mas que ecoa no fundo de todas as palavras. 

É o que não se nomeia, 
mas que habita em tudo o que existe. 
É o que não se ouve, 
mas que ressoa no centro do ser. 

É o que não se toca, 
mas que envolve cada gesto. 
É o que não se prova, 
mas que alimenta a alma.  É o que não se chama, 
mas que responde quando o mundo cala.

Março 2025
© Julio Miranda

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