
Mapa dos Beijos Perdidos
Entre dobras do tempo, traço linhas
de tinta invisível — coordenadas
do que ficou suspenso no ar:
os beijos que a brisa não levou,
os que se afogaram em silêncios,
os que viraram pó nas esquinas.
Neste atlas do esquecimento,
cada cruz marca um lugar-fantasma:
a curva do rio onde teu lábio tremeu,
o banco de praça que guardou teu aroma,
a página do livro onde um suspiro
ficou preso, como folha seca.
São fronteiras de um reino desfeito:
o norte é a noite em que não nos tocamos,
o sul, o café que esfriou na xícara.
Nasci para cartografar ausências,
desenhar rotas de mãos vazias,
assinalar portos onde o amor
ancorou, mas não desembarcou.
Há latitudes de quase-encontros,
longitudes de despedidas mudas —
e no centro, um meridiano ardente:
o primeiro beijo, astro extinto
cuja luz ainda viaja até nós,
cego e persistente.
Quem encontrar este mapa
saberá: os beijos perdidos não se apagam.
Eles se escondem nos mapas da pele,
nas cartografias do vento,
na geografia secreta
de quem ainda os procura.
© maio 2025
Julio Miranda

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