
Loucura em Azul e Ouro
Eras a estrela que o outono roubou do verão,
loura como o trigo sob o sol da canção,
teus olhos — dois mares onde naufraguei,
ondas azuis que meu verso jamais conteve.
Nas noites sem nome, desenho teu rosto:
são constelações as sardas no teu atlas desgosto,
mapas de um amor que não ousa pisar
no jardim proibido onde as flores estão a murchar.
Entre nós, o tempo teceu sua cerca de espinhos:
tu, primavera em riso; eu, outono em caminhos.
Mas que importa a lei dos relógios, das idades?
Amo-te assim — impossível, nas cordas da saudade.
Teus cabelos são fios de luz a escorrer
sobre a pele que a lua quis imitar,
e cada sarda é um verso não dito,
um segredo que o vento guardou do infinito.
Chamas frias, convenções: apagam nosso fogo.
Mas no peito insisto — és mito, és ar que não largo.
Celebro-te em silêncio, estátua além do toque,
enquanto meu sangue escreve teu nome em loucura…
E se um dia a morte vier perguntar
por que amei o impossível sem nada alcançar,
direi que amar-te foi ver Deus em fragmentos —
uma eternidade em teus olhos, um século em lamentos.
maio 2025
© Julio Miranda

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