Longe da Vista, Longe do Coração?

Dizem por aí, nas ruas de Lisboa,
“Longe da vista, longe do coração”
Uma verdade antiga que ecoa
Ou apenas meia razão?

Há quem parta e se desvaneça
Como névoa ao sol da manhã,
E da memória desapareça
Sem deixar vestígio de amanhã.

Mas há laços que o tempo não desfaz,
Nem oceanos conseguem afogar,
Que na distância crescem, tenazes,
Como raízes a aprofundar.

O que é verdadeiro não se esvai
Só porque os olhos já não veem.
A saudade portuguesa bem o sabe,
É na ausência que os fortes permanecem.

Quantas cartas cruzaram mares bravios?
Quantos corações resistiram à prova?
Entre partidas e chegadas, os fios
Que se entrelaçam numa força nova.

Talvez o provérbio seja um aviso:
Cuida do que amas, mantém-no perto.
Porque alguns amores, sem compromisso,
Desvanecem-se no caminho incerto.

Mas outros… ah, esses outros!
São como estrelas no firmamento.
Ainda que invisíveis durante o dia,
Lá estão, constantes no seu argumento.

Longe da vista? Sim, por vezes.
Longe do coração? Depende de nós.
Da memória que cultivamos com esmero,
Da chama que mantemos acesa a sós.

O coração tem olhos próprios,
Que veem além do horizonte visível.
A distância é apenas geográfica
Para quem ama de forma indelével.

abril 2025
© Julio Miranda

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