
Horizonte Partido
Dizem que o mar, quando se afasta,
leva na maré os contornos do porto,
e o que a vista não alcança, o peito apaga —
areia movediça onde se perde um nome.
(Quantas cartas ficaram por escrever,
presas no vácuo de um adeus sem gesto?
O tempo, alfaiate de ausências,
corta os fios que uniam os relógios.)
Mas há segredos que o vento não dispersa:
raízes que cavalgam subterrâneos,
astros mortos cuja luz ainda nos toca,
amores que dormem em ânforas de silêncio.
Talvez a distância seja um espelho quebrado —
cada fragmento guarda um mapa diferente:
há quem se perca no labirinto do nunca,
há quem dance com fantasmas no escuro.
Eu carrego tua ausência como concha vazia:
sussurra marés mesmo longe da praia.
Não é a vista que mede o coração,
mas o que ecoa onde o olhar não alcança.
abril 2025
© Julio Miranda

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