
Horizonte de Ninguém
Entre as paredes que respiram lenta névoa,
o tempo desfia-se em fios de ausência.
Não há relógios, apenas o compasso
de um rio que seca na garganta.
Algures, uma janela guarda o peso
de todas as chaves nunca giradas.
O silêncio não é sombra, é uma língua
que desenha mapas no escuro.
Alguém sobe as escadas do poente
— degraus de vento, corrimão de sal —
e encontra, no espelho da maré vazia,
o rosto que as ondas apagaram.
A solidão não é ilha: é o continente
onde os passos são ecos de um nome
que o vento não trouxe.
A noite abre sua gaveta de estrelas frias,
e dentro, apenas o rumor de um barco
que nunca partiu.
Março 2025
© Julio Miranda
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