
Fragmentos do Espelho
Debruço-me sobre o vidro polido,
Procuro um rosto que sei ser o meu.
Em vez de um, encontro mil reflexos,
Cada um com verdade que se perdeu.
Aqui está quem fui em manhãs de infância,
Ali, o jovem de sonhos ardentes.
Mais além, o homem de mãos cansadas,
E outros que serei, ainda latentes.
Uns fragmentos brilham como diamantes,
Outros escondem-se na penumbra.
Em cada estilhaço, uma parte minha
Que me escapa, me atrai, me deslumbra.
Que estranho mosaico é este ser
Que habita entre memória e devir.
Nas fissuras do espelho partido,
Encontro-me inteiro, pronto a partir.
Reconheço em mim tantas personas,
Máscaras que visto e logo abandono.
Será que alguma é mais verdadeira?
Ou sou apenas de fragmentos dono?
O espelho quebrado não me limita,
Multiplica-me em infinitas vidas.
Sou todos estes rostos e nenhum,
Sou as versões de mim, reunidas.
abril 2025
© Julio Miranda

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