
Fotografia de Uma Lágrima
Na câmara escura do olhar,
um instante se revela:
prata de sal e luz capturam
o que a alma não disfarça.
Não é água, é mapa de um naufrágio,
geografia de um rio invisível
que desagua no mar do rosto.
Silêncio líquido, cristal quebradiço —
um oceano inteiro cabe aqui,
presa no véu de um só suspiro.
Quem a fotografa vê além do grão:
na curva frágil, um arco-íris de dor,
na superfície, um céu despedaçado.
É retrato do que não foi dito:
o adeus na esquina, a palavra engasgada,
o amor que se tornou fóssil na garganta.
Mas na lente do tempo, a lágrima
é semente de estrela —
um diamante noturno que, ao secar,
deixa na pele a sombra de um cosmos.
E o clique, eterno, guarda o segredo:
atrás de cada gota, um universo
que chora em silêncio.
maio 2025
© Julio Miranda

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