Êxtase Bordado a Ouro

Não foi fogo que nasceu no peito,
Foi ouro.
Um fio quente e antigo,
Mais do que sol, mais do que mito,
Tecendo-se no escuro vértice
Onde o ser apenas sente.

Foi alegria sem nome,
Pura, como o ar antes da palavra.
Um riso que não vem da boca,
Mas do centro que irradia
Luz de um sol interno,
Bailando em átomos de pura graça.
Êxtase bordado a ouro
No tecido simples do instante.

Foi amor, sim,
Mas não só o que se diz.
Foi mar sem fundo,
Calmo e terrível na sua vastidão.
Onde dois olhares se fundem,
Não em espelhos, mas em abismos,
Encontrando no escuro
A mesma fonte primordial.
Êxtase bordado a ouro
Nas águas profundas do encontro.

Foi paixão,
Mas não labareda que consome.
Foi impulso de raiz,
Força quieta que ergue montanhas.
Um desejo que não pede,
É.
Como o rio que não duvida
Do caminho para o mar.
São mãos que movem mundos
No gesto simples de acariciar.
Êxtase bordado a ouro
No movimento que eterniza o agora.

Ah, este fulgor!
Este ponto de luz
Onde alegria, amor e paixão
Se desfazem em uma única substância:
Presença.
Respiração sagrada.
Êxtase bordado a ouro
Num instante que é tempo
Que não passa.
Só brilha.

junho 2025
© Julio Miranda

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