
EMBRIAGUEZ DE SENTIR
Não foi vinho, não foi espuma,
nem champanhe em taça fria.
Foi teu riso, em minha sala escura,
que me encheu de luz sombria.
Teu olhar — primeiro gole,
tua voz — destilado raro.
Meus sentidos, em revolução doce,
perderam norte, acharam faro.
Beijo longo é cálice fundo,
pele nua, mel na ferida.
Respiração, ritmo profundo,
bebida viva, não consumida.
Toco em ti — perco a medida,
cheiro a noite no teu cabelo.
Sou só tontura oferecida,
coração é tonel do anelo.
Não há álcool que assim deslize,
nem licor que este ardor traga.
É embriaguez que não se diz,
sobriedade que não apaga.
E quando a noite se despeja
e o corpo finda o seu festim,
ficamos sóbrios de alma inteira,
bêbados só de existir assim.
junho 2025
© Julio Miranda

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