
Ecos de um Órgão Partido
Entre caixas e dias esquecidos,
uma pílula do tempo me devora:
teu nome escrito em letras de despedida
— um frasco vazio onde o fígado chora.
O coração, relógio enferrujado,
quase parou seu tique-taque obscuro.
Tocaste em mim como uma doença rara:
amor que corrói, mas cura o futuro.
A saudade é um remédio amargo na garganta,
um transplante de ausência mal suturado.
Até o YouTube sabe da ferida:
‘Wish you were here’ ecoa, desalmado.
Choro as lágrimas que não salvarão teus órgãos,
o amor que foi transplante recusado.
Na mesa, a caixa — tumba de comprimidos —
guarda o adeus que nem o tempo apagou.
(Teu corpo era um verso em desequilíbrio,
minha mão, papel em branco, sem lugar.
Agora, a música repete o que não digo:
o fígado do mundo sabe o que é falhar.)
5 de abril de 2025
© Julio Miranda

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