Ecos de Amanhã

Nas dobras do silêncio,
ouvem-se os sussurros:
vozes que não são vozes,
mas marés de um tempo ainda por nascer.

São sombras de futuros
que dançam na parede da alma,
projetadas por um sol invisível,
um astro que teima em não raiar.

Falam em línguas de vento,
traduzem o medo em semente,
a dúvida em raiz que se expande
sob a terra do agora.

Quando virás? — perguntam
as horas não contadas,
enquanto o presente, frágil,
se desfaz em pó de estrelas adiadas.

Mas eis que no peito ecoa
um rumor de asas:
o amanhã não é destino,
é voo desenhado no escuro.

E cada passo, mesmo em fuga,
carrega o mapa do possível —
frutos de árvores que ainda não existem,
cantos de pássaros que já somos.

Deixemos, então, que os ecos
entrelacem passado e horizonte.
Pois a voz que antecipa a aurora
é a mesma que a tece.

abril 2025
© Julio Miranda

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