
ECOS
Na garganta do vale,
um canto despedaçado
ergue asas de pedra:
são sílabas antigas
que o vento reconstrói.
As paredes da caverna
guardam o lamento dos musgos,
vogais alongadas
em fendas de quartzo—
o tempo é um espelho quebrado
onde os adeuses se multiplicam.
(Até o silêncio
tem raízes:
ouvimos folhas secas
sussurrando nomes
que a terra engoliu
em sua língua de raiz.)
Às vezes, na curva do rio,
uma voz sem dono
repete a pergunta que não fizemos—
a correnteza devolve
nossas próprias palavras
despidas de pele,
líquidas,
transparentes como peixes noturnos.
E quando a noite desaba
sobre os ombros da montanha,
os ecos se recolhem:
viram constelações
de tudo que insistimos
em não calar.
Março 2025
© Julio Miranda

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