É Primavera em Cada Beijo Teu

No jardim do tempo, onde as horas desabrocham,
teus lábios são pétalas de um verbo colorido:
floresce em mim o sol que a noite encobre,
e a vida, em tua boca, é um fruto proibido.

Tua língua desenha brisas de amoras silvestres,
teu suspiro é seiva, raiz que me atravessa —
na curva do teu dorso, os rios se encontram,
e o mundo, em teu quadril, vira semente acesa.

Beijo-te, e a tarde despe o manto do inverno:
na pele, o aroma de jasmim recém-nascido;
nos dedos, o vinho do verão, eterno,
e no ar, o mel de um enxame perdido.

É primavera em cada beijo teu:
o outono se rende ao teu corpo, rio sem leito.
Sou terra húmida, fértil, campo teu,
onde a luz se faz flor, e o tempo, desfeito.

Na geografia do teu pescoço, encontro
mapas de auroras, cicatrizes de luar.
Cada toque teu é um broto no meu encontro,
e a morte, em nós, não sabe mais morar.

Ah, deixa que a semente do teu nome
meu sangue inunde, como chuva em chão sedento.
Que cada beijo seja um sol a clamar:
Primavera é o teu corpo — e eu, o seu lamento.

maio 2025
© Julio Miranda

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