Dia de Todos os Dias

Hoje não é o que dizem:
é o dia dos que namoram o vento,
dos que escrevem pactos
com asas, em vez de anéis.

(Os apaixonados são alquimistas:
transformam horas em néctar,
beijos em experimentos,
silêncios em mapas do tesouro.)

Não há regras, só riscos:
uns buscam, na curva da estrada,
um rosto que o tempo não desenha;
outros colecionam tempestades,
ciúmes como espinhos
ou flores que recusam ser colhidas.

Há os que dançam com o vazio,
os que cortejam fantasmas,
os que bebem o sexo como água sagrada,
os que trocam o “para sempre”
por um minuto de asa livre.

Ah, mas o amor é verbo clandestino:
moram dentro dele os que fogem das datas,
dos chocolates embalados,
dos versos que o calendário dita.

Afinal, que dia é hoje?
O mesmo de ontem e o de amanhã –
sempre há um namoro
entre a vida
e o que nela voa,
sem manual, sem garantia,
só com o risco de ser ave.

fevereiro 2025
©Júlio Miranda

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