Dança Incandescente

Não começou com música.
Começou com um silêncio
Onde dois corpos esqueceram
De não ser um só pulso.
Um passo? Não:
Uma queda consentida
No vazio que os unia,
E no fundo desse abismo,
Brota a primeira chama.
Dança incandescente.

Alegria foi o primeiro giro:
Leveza de asa no ar,
Riso que não ecoa,
Mas inflama o ar.
Não era felicidade plena,
Era potência pura,
Centelha solta no escuro,
Achando seu par.
Corpos que se descobrem
Faróis num mesmo mar.
Dança incandescente.

Amor foi o abraço
Que não prende, mas liberta.
Dois fogos fundidos
Num único clarão.
Não é posse, é entrega
Ao ritmo que os inventa.
Olhos fechados,
Vendo mais fundo:
A cartografia nova
Do ser em combustão.
Mãos que não seguram –
Conduzem a erupção.
Dança incandescente.

Paixão foi o passo
Que incendeia o chão.
Não desejo que consome,
Mas fome de eternidade
No instante que arde.
Um tremor telúrico
Onde raízes se entrelaçam,
Sugando o mesmo magma.
É força que ergue,
Não destrói:
Criação em coluna de fogo
No corpo que é altar.
Dança incandescente.

E quando cessam os movimentos?
Ah, não cessam.
O fogo se internaliza,
Vira brasa no âmago.
A música era só o véu.
A verdadeira dança
É este contínuo arder,
Este pulso sincronizado
Que transforma o sangue
Em ouro líquido.
Dois sóis em órbita próxima,
Girando, girando…
Na eternidade de um instante.
Dança incandescente.

junho 2025
© Julio Miranda

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