Corpus Hermeticum


I. Tabula Smaragdina

O que está acima espelha o que está abaixo —
entre a abóbada celeste e o chão dos pés,
um fio invisível urde correspondências.
Sou átomo e constelação, simultaneamente,
enquanto o mercúrio da lua serpenteia
nas veias da terra que sou eu mesmo.

Entre a caverna de Hermes e o cálice de Sophia,
esse fio se enrosca, ligando os capítulos do cosmos


II. Poimandres

Quem é o mestre que habita o labirinto?
O que murmura através do véu, revelando
que somos luz aprisionada em argila?
No atanor do peito, calcino metais pesados —
refino o chumbo das palavras em o ouro do silêncio,
enquanto o caduceu do tempo serpenteia

entre vigília e sonho, na antecâmara do Nous,
onde o instante presente destila sua essência.


III. Asclepius

As constelações que dançam no céu
são os mesmos padrões que incendiam meus neurónios.
A pedra filosofal não é objeto —
é ver o Todo em cada folha de outono,
no hexágono da neve, na espiral do DNA.

O livro secreto não está em papiros antigos,
mas nas veias da terra, no fio que nos une.


IV. Kybalion

Nada está parado: tudo pulsa,
como o mantra das esferas que ordena planetas
e guia abelhas em sua dança geométrica.
As leis herméticas são a gramática
desse idioma cósmico que desaprendi ao nascer —
agora recolho seus fragmentos em cacos de espelho,

enquanto o fio invisível, tecido de silêncio,
me conduz de volta ao princípio.


V. Corpus

Que sabedoria está selada
nos vasos canópicos deste corpo humano?
Cada célula guarda o manuscrito completo:
sou templo, sou constelação, sou fio e tear.
O segredo gravado na pedra do peito
ressoa na dança das estrelas.

Como acima, assim abaixo —
agora o Corpus Hermeticum respira em meu sangue,
selado e aberto, átomo e abóbada.

fevereiro 2025
©Júlio Miranda

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