
Clandestinos Sob o Céu de Giz
Traçamos rotas invisíveis num mapa de silêncios,
As nossas mãos, cúmplices na penumbra,
Desenham constelações proibidas
No firmamento que só nós conhecemos.
O mundo dorme enquanto nós,
Clandestinos sob o céu de giz,
Riscamos e apagamos os nossos passos
Como quem escreve num quadro negro
As palavras que ninguém pode ler.
Encontramo-nos nas entrelinhas do tempo,
Nos intervalos entre o dever e o desejo,
Onde o relógio suspende a respiração
E a cidade fecha os olhos por um instante.
Sussurros são a nossa língua materna,
Olhares, a nossa literatura secreta.
Entre nós, cresce um jardim de códigos
Que floresce longe dos jardins públicos.
Os nossos beijos são asteriscos
Numa página que o mundo não folheia.
Os nossos abraços, parênteses
Que abrigam um universo inteiro.
Somos astronautas do impossível,
Navegantes de um mar interdito.
Sob este céu de giz, escrevemos e apagamos
A nossa história — efémera nas marcas,
Eterna na memória dos nossos corpos.
E quando a madrugada ameaça delatar-nos,
Apagamos com as palmas das mãos
O céu que nos cobriu durante a noite,
Sabendo que voltaremos a desenhá-lo
Na próxima conspiração dos nossos corações.
© maio 2025
Julio Miranda

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