
Cicatrizes do Vento 3.0
Os mapas que a areia desenha
são códigos-fonte que o mar recompila.
Cada onda apaga uma versão beta da Terra,
mas o silêncio permanece em cache.
As nuvens, outrora corpos de água,
são agora servidores de nostalgia,
empilhando memórias que evaporam
antes de se tornarem chuva.
Nossos passos? Apenas algoritmos defeituosos,
linhas de código refatoradas pelo vento.
As árvores já não sabem as estações,
pois perderam o manual de instruções.
Até as sombras fazem logout dos corpos:
o que foi solidão agora é fluxo de dados,
o vazio preenche-se de notificações fantasma.
Construímos templos de vidro e fibra ótica,
e rezamos a deuses offline.
O espanto não está na mudança,
mas no erro 404 de reconhecer o passado.
O abraço que nos aquece nesta madrugada
já foi pixel, já foi cinza,
já foi um poema escrito em linguagem extinta.
E seguimos, arquivos temporários de nós mesmos,
colecionando versões obsoletas daquilo que fomos,
enquanto o vento — esse programador furioso —
descompila o código da eternidade
Março 2025
© Julio Miranda

Deixe um comentário