Catálogo de Minúcias Afetivas

Entre as vírgulas do silêncio,
respira um talvez não dito —
o mapa das tuas pálpebras
traça rotas de voos infinitos.

A chávena de café esquecida
guarda metade do teu sabor:
a curva do pulso ao entregá-la
era um verso disfarçado de calor.

Nos parênteses das tuas costas,
escrevo segredos sem pressa,
enquanto a tua mão desenha
ilhas no meu ventre — geografia acesa.

Até o modo como arrumas a desordem:
os livros caídos viram pontes entre nós,
e a meia perdida debaixo do sofá
é um suspiro teu que ficou, por descuido, meu.

Amor são estas horas mortas:
o cheiro a maresia no casaco que emprestei,
o molho de chaves que inventa novas portas,
e o modo como dizes “olha” antes de um beijo —
um preâmbulo acesso a sulcar o abismo.

Março 2025
© Julio Miranda

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