
Cartografia do Éden
Tua pele é um rio de solstícios,
onde a luz desfia seus segredos em veios de mel.
Os teus ossos, colinas de basalto antigo,
erguem-se sob a lua—arquipélago de silêncio
que nem os deuses ousaram nomear.
Nas curvas do teu ventre,
o mar desenha mapas de espuma e sal:
cada onda—um suspiro de génesis,
cada maré—o pulso de um deus adormecido
na concha do teu umbigo.
Teus lábios são a sementeira do fogo,
onde o verão guarda suas brasas mais ferozes.
Falo da tua boca em línguas de cinza e vinho,
enquanto o outono, preguiçoso,
se enrola nos teus cabelos como uma serpente.
Teus olhos—dois poços de eclipse,
engolem constelações e as cospem em espelhos.
Neles, navego sem bússola:
são faróis que incendiam a névoa,
são astros que negam o firmamento.
Ah, o teu riso—uma faca de luz
cortando a carne opaca do tempo.
Nada em ti é estático.
És o vale que se abre em vulcão.
A tempestade que veste pele de brisa.
O canto do grilo na garganta do abismo.
Até teus pés pisam o chão
como se a terra fosse um verso por nascer.
E quando te moves,
o mundo desata seus nós,
e os deuses—velhos cartógrafos—
rasgam seus pergaminhos,
sabendo que toda geografia
é apenas um eco do teu corpo
a desenhar-se no vento.
E toda a terra se curva para caber em ti.
março 2025
©Júlio Miranda

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