
Beijo
Entre lábios, um segredo desatado:
flor que desabrocha em fogo líquido,
raiz de um astro nunca nomeado.
Toca-me a pele como um verso antigo,
veste de mel a ausência entre os meus dedos—
na boca, o mundo é um rio, breve trigo.
Sabor de eterno em grão: teu húmido enredo
desmancha o tempo em sílabas de cal.
Na língua, um mapa de paisagem sem medo.
Ficam os ecos onde o gesto é igual
à cicatriz que a luz deixa na pedra:
vestígio, névoa, rumor de um temporal.
Beijo é o instante em que a alma se despedra
e dança, pura, no silêncio cego—
dois corpos feitos ponte, fronteira, seda.
(No centro, um sol sem nome: navego.)
abril 2025
© Julio Miranda

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