Azul em fevereiro

O sol derrama fulgor radiante
sobre as calçadas de fevereiro —
na esquina, um jasmim desafia o inverno,
sussurra primavera antes do tempo.

O céu, sem mácula,
desdobra um véu de anil
e eu, incauto, mergulho
no mesmo azul que te habita.

São teus olhos
esta manhã sem fronteiras:
dois lagos quietos
onde naufragam minhas horas.

De súbito, o WhatsApp vibra.
A tua imagem, pixelada,
ergue um reflexo que não basta.
O digital não sabe
que o azul tem a profundidade
de um mar e de uma cicatriz.

Pelos telhados,
um súbito alvoroço de andorinhas —
lembro-te a rir,
a desenhar nuvens
com o dedo no ar,
o céu um quadro mágico
moldado pelo teu encanto.

O dia desfia-se em tons
que não conhecem nome:
cerúleo, cobalto, ultramarino —
todos, afinal,
sinónimos do teu olhar.

Agora a tarde inclina-se,
o horizonte sangra
num púrpura cansado.
Mas até o crepúsculo, vês?,
guarda nos lábios
um reflexo de água —
último suspiro
do azul que em nós
é eterno como o amor.

fevereiro 2025
© Julio Miranda

fevereiro 2025
©Júlio Miranda

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