Assim Seguimos

“Assim seguimos:”
cada passo, um verso gravado
na areia movediça do tempo,
onde as horas não se contam
em números, mas em sussurros.
Somos dois rios a desenhar
o mesmo mapa na garganta do mundo,
levando connosco folhas de outonos passados
e promessas de margens desconhecidas.

“Compassos de carícias em verso:”
as mãos escrevem o que a boca cala,
traçam pentagramas na pele,
convertem o tato em melodia.
São notas mínimas — um arpejo de olhares,
o staccato de um dedo que hesita,
o legato de um abraço que não finda.
Aqui, até o silêncio tem cadência:
é noite que compõe seu próprio luar.

“Raízes cruzadas na mesma canção:”
sob a terra invisível, crescemos
como árvores que compartilham a seiva
antes mesmo de florir.
Não importa qual galho alcança o céu —
troncos distintos guardam um só nome
escrito em círculos concêntricos.
E quando o vento vier,
levará nossas folhas para dançar
no mesmo redemoinho de eternidade.

Que a vida seja esse “lied” interminável,
onde cada encontro é um acorde
e cada despedida…
apenas um respiro antes do próximo verso.

abril 2025
© Julio Miranda

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