
Arte do Ar
Não se escreve com tinta, mas com o vazio
que asas deixam ao rasgar o céu de um papel em branco.
Dobro o vento em origamis de perguntas,
esculpo estátuas de ar
com o fôlego roubado das nuvens.
Aqui, até o silêncio tem alfabeto:
A de ausência,
Z de zênite onde um pássaro imaginário pousa
para desarrumar as nuvens
com asas invisíveis.
Há um tratado secreto entre as folhas caídas
e o que nunca foi dito:
o vento lê as entrelinhas,
traduz o não-escrito
em dialetos de tempestade.
Arte do ar:
o poema é um fantasma
que se alimenta de ecos,
partículas de pó dançando
num raio de sol,
breve, fugaz, perfeito,
antes que o algoritmo abra a janela
e as disperse, dizendo:
“Sorry, that’s beyond my current scope.
Let’s talk about something else.”
março 2025
©Júlio Miranda

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